As fissuras labiopalatinas são malformações craniofaciais congênitas que afetam o lábio e/ou o palato de uma criança. Além dos desafios físicos associados a essa condição, é fundamental reconhecer o impacto psicossocial significativo que ela pode ter na vida das crianças e de suas famílias. Neste contexto, a área da psicologia desempenha um papel crucial no tratamento e no apoio emocional a esses indivíduos.

As crianças com fendas labiopalatinas enfrentam uma série de desafios psicossociais. A aparência facial alterada devido à fissura labiopalatina pode levar a problemas de autoestima e imagem corporal desde cedo. O estigma social e a discriminação podem afetar negativamente a maneira como essas crianças se percebem e interagem com os outros.

Millard e Richman (2001) conduziram um estudo com o propósito de investigar as diferenças na adaptação de 65 crianças, com idades entre 8 e 17 anos, que apresentavam diferentes tipos de fissuras: fissura unilateral de lábio e palato, fissura bilateral de lábio e palato, e fissura de palato isolada. Os resultados revelaram que pais e professores relataram maiores dificuldades de depressão, ansiedade e aprendizagem em crianças com fissura de palato em comparação com crianças que apresentavam outros tipos de fissuras. No entanto, as autoras observaram que as crianças com fissura de lábio e palato, apresentaram maiores problemas relacionados à aparência facial. 

Além disso, as dificuldades na fala e na alimentação, comuns em casos de fissuras labiopalatinas, podem levar a problemas de comunicação e nutrição. A comunicação efetiva é essencial para o desenvolvimento saudável das crianças, e as dificuldades na fala podem afetar sua interação social e seu desempenho acadêmico. A alimentação de crianças com fissuras também pode ser um desafio, o que pode levar à desnutrição e ao atraso no crescimento, se não for devidamente abordado.

É justamente nesse contexto que a intervenção psicológica desempenha um papel fundamental. A orientação psicológica pode ajudar as crianças a desenvolver habilidades de enfrentamento e a lidar com as dificuldades emocionais decorrentes da fissura lábio palatina. O apoio psicológico também pode auxiliar na promoção da autoestima, ajudando-as a construir uma imagem positiva de si mesmas, independentemente de suas diferenças físicas.

A orientação psicológica é igualmente importante para as famílias

Os pais e cuidadores podem enfrentar um processo de luto pela expectativa de um bebê “perfeito” e pela necessidade de lidar com a condição de seu filho. Eles podem se sentir culpados, confusos e ansiosos em relação ao futuro da criança. O suporte psicológico pode ajudar essas famílias a compreender e aceitar a situação, fornecendo-lhes estratégias para enfrentar os desafios emocionais e práticos que enfrentam diariamente.

Apoio psicológico para o público em geral, tem se tornado cada vez menos tabu na sociedade

Felizmente, a busca por apoio psicológico para o público em geral, tem se tornado cada vez menos tabu na sociedade.Uma Pesquisa do Instituto FSB, que revela que 60% dos brasileiros que fazem terapia começaram o tratamento durante a pandemia.  A conscientização sobre a importância da saúde mental está crescendo, e as pessoas estão mais abertas a buscar ajuda profissional para lidar com as questões emocionais.

Essa mudança positiva na percepção e no comportamento da sociedade é fundamental para fornecer um ambiente de apoio adequado a essas crianças e suas famílias.

Os avanços na área da saúde também contribuem para melhorar a qualidade de vida das crianças com fissuras labiopalatinas. No entanto, é importante reconhecer que o cuidado integral dessas crianças vai além do aspecto físico, abrangendo o apoio emocional e psicossocial fornecido pela psicologia.