Dra Vera Raposo compartilha a inspiradora história do Sobrapar e seu compromisso em transformar vidas por meio da dedicação e inovação no campo da reabilitação craniofacial. Acompanhe.

Entrevista com Vera Raposo, Presidente do Hospital Sobrapar

Poder e Negócios (PN): Seja muito bem-vinda ao Poder e Negócios. Hoje, eu tenho o prazer e a honra de conversar com a presidente do Hospital Sobrapar, referência no tratamento de anomalias craniofaciais, Vera Raposo. Um prazer enorme recebê-la aqui, Vera, para falar dessa linda história do hospital Sobrapar, uma referência no Brasil que atende pessoas de todo canto, até de fora do país, não é mesmo?

Vera Raposo (VR): É isso mesmo, um prazer estar aqui com vocês para conversar sobre assuntos tão importantes para nós, que são vitais. É aquilo que a gente faz, é a nossa missão de vida.

PN: Vera, são 45 anos de história, uma trajetória longa que imagino já ter gerado muitas alegrias, lágrimas e emoções.

VR: Nem diga! Realmente, é uma história de vida. É choro, glória, alegria, perrengue e tristeza, mas seguimos com muita alegria, porque realmente é aquilo que nós viemos fazer nesta vida e fazemos o melhor que podemos.

PN: O Hospital Sobrapar foi fundado pelo seu marido. Pode nos contar essa história?

VR: O Hospital Sobrapar é uma ideia que meu marido trouxe dos Estados Unidos, onde se formou. Quando o professor Zeferino Vaz estava organizando a Unicamp, ele trazia cérebros do exterior para compor a universidade e o Cássio foi um dos convidados para formar o serviço de cirurgia plástica da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp. Mas ele sempre pensou que precisaria de um hospital especializado para tratar essas anomalias. Ele via a necessidade de um hospital específico para o tratamento de anomalias que atingem as crianças quando nascem e também as pessoas que sofrem acidentes. Foi aí que surgiu a ideia de fundar o hospital, com a ajuda de muitas pessoas que transformaram esse sonho em realidade.

PN: E quando transforma vidas, gera uma motivação para todos se unirem e fazer acontecer, não é?

VR: Transformar a vida do outro é algo de fundamental importância. Quando você transforma a vida do outro, você de alguma forma está transformando a sua vida. Isso é uma bênção, poder ter esse tipo de raciocínio e possibilidade, criar uma motivação forte o suficiente para que muitas pessoas abracem essa causa e transformem essa causa em realidade.

PN: Muitas histórias já passaram pelo Hospital Sobrapar e acredito que os pacientes acabam se tornando membros da família, não é?

VR: Na verdade, são membros de uma família. O tratamento de uma criança que nasceu com uma fissura labiopalatina, por exemplo, pode durar 18 anos. O tempo passa muito rápido. Às vezes, você vê a mãe chegando com um bebê e, de repente, aquela criança já está correndo pelos corredores do hospital e, logo, já está moça. É impressionante ver o olhar de esperança da mãe quando entrega seu filho para o médico. A responsabilidade de um médico é enorme, pois ele vai transformar uma face atípica para que essa criança possa se integrar na sociedade.

PN: O tratamento precisa ser completo, incluindo o psicológico. Como é esse processo?

VR: Quando o Cássio começou, ele fazia cirurgia e eu, como psicóloga, tratava a família e as mães. A mãe, ao receber o filho com uma anomalia, tem um choque, principalmente há 45 anos atrás, quando não tínhamos todos os recursos médicos de hoje. É uma realidade diferente para a mãe, que pode levar algum tempo para aceitar e elaborar psicologicamente aquela criança. Mas, somos privilegiados porque as mães vêm com esperança e uma crença absoluta de que tudo dará certo. Aos poucos, o amor de mãe nasce e a percepção muda, transformando o inesperado em uma aprendizagem de vida.

PN: A maternidade já altera toda a mulher e, quando ocorre uma anomalia craniofacial, o impacto é ainda maior, não é?

VR: Pode ser mais intenso. Quando uma mãe tem um filho, ela lida com muitas coisas novas, especialmente se for o primeiro filho. Quando a criança não é aquela idealizada, a mãe tem que lidar com uma condição mais difícil. Além disso, a condição socioeconômica também influencia, pois o hospital atende pacientes do SUS, muitas vezes com carências médicas e de relacionamento. Nossa equipe é muito sensível a esse acolhimento, e somos privilegiados por ter profissionais especialistas com renome internacional que abraçam essa causa.

PN: Continuamos agora nossa conversa no YouTube, onde vocês poderão acompanhar mais detalhes dessa linda história e sobre o importante atendimento do Hospital Sobrapar.

PN: Vera, falávamos sobre a troca entre a equipe e as famílias. Como é esse processo no Hospital Sobrapar?

VR: Nossa equipe interdisciplinar, incluindo enfermeiras e técnicas de enfermagem têm um grande papel de relacionamento. Quando a mãe entra no hospital para operar seu filho, a enfermagem está presente, cuidando com carinho. Esse acolhimento é essencial para transmitir segurança às famílias.

PN: O hospital depende de doações para continuar seu trabalho. Como funciona essa captação de recursos?

VR: Dependemos de doações de pessoas físicas, jurídicas e fundações, inclusive estrangeiras. Temos emendas parlamentares que ajudam na compra de equipamentos e no custeio do hospital. Além disso, temos um bazar que recupera itens doados, vendendo-os para arrecadar fundos. 

PN: Campinas é uma cidade privilegiada por ter instituições como o Hospital Sobrapar. Qual é a importância desse reconhecimento?

VR: Campinas é um polo tecnológico e sensível às causas do terceiro setor. Temos grandes universidades que elevam a área da saúde ao topo do conhecimento tecnológico e científico. Isso é um orgulho para a cidade, que se torna uma referência nacional e internacional. Neste ano, em agosto, vamos realizar um grande congresso internacional, presidido pelo meu filho, sobre anomalias craniofaciais.

PN: Seus filhos seguiram os passos do pai. Como foi esse processo para eles?

VR: Meus filhos nasceram pouco depois da fundação do hospital e cresceram acompanhando o pai no centro cirúrgico. Eles seguiram a carreira de cirurgiões, abraçando a causa do hospital, o que é motivo de grande orgulho para mim.

PN: Para finalizar, como uma mãe deve reagir ao receber a notícia de que seu filho tem uma anomalia craniofacial?

VR: A coisa mais importante é ter fé. As pessoas que já se prepararam para as dificuldades da vida, que têm fé, reagem melhor. Depois, vem a esperança. Quando a mãe percebe que existe um caminho possível para o tratamento do filho, com o apoio de uma equipe preparada, as coisas ficam mais fáceis. Temos vários depoimentos de mães no Instagram do hospital que mostram como essa esperança e fé são fundamentais.